29 de abril de 2009

Tributo

Costumo ser o Diogo Mainardi da dança. Mas hoje acordei suave... Quero ser um chantily! Por isso, decidi postar aqui, nesta data emblemática, minhas referências pessoais. Apreciem!




Minha dança de viver
Osho
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Mamãe, eu quero ser a Gabrielle Roth!
Gabrielle Roth
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O rosto da luta por muDança
Alvin Ailey
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Corpo e Mente
Marta Graham
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Disciplina Dançante
Rudolf Nureyev
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Minha amada preferida! Insuperável!
Nadia Gamal
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Uma dança inesquecível
Mesa Verde (de Kurt Joss)
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O rosto da dança moderna
Isadora Duncan
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Dança de Caráter
(Não é a carater, é de carater mesmo, no caso dele)
Antonio Gades
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A encarnação dançante da Deusa
Fifi Abdou
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O tesão em forma de dança
Vaslav Nijinski

17 de abril de 2009

29 de Abril: o Dia D


Essa noite eu tive pesadelos porque antes de dormir fiquei pensando no "dia D" da Dança. Eu me lembrava de Michael Douglas em "Um dia de Fúria", porque sabia que tinha um filme chamado "O Dia D", mas não me vinha outra imagem na mente. E fiquei a me perguntar por que chamam o dia 29 de abril dessa maneira, o que teria de especial nessa data? Também me lembrei que a cada mês temos um dia especial e pensei em fazer um calendário tipo: em março tem o dia da mulher, em abril tem o dia da dança, em maio tem o dia das mães, em junho tem o dia dos namorados... Mas isso se transformou em algo semelhante a contar carneirinhos e caí no sono.


No meu pesadelo apareciam as cenas do "A Dança Pega" misturadas com as danças de "Caminhos das Índias". Acordei assustada e me lembrei que o programa do People & Arts estréia no dia 27 de abril. Por que será que não deixaram para o Dia D, que cai apenas dois dias depois? Deve ser para eu poder fazer alguma piada. Se dia 29 é o Dia D, então dia 28 é o dia C e assim o dia 27 vai ser o dia B, diaB, diaBão, ô diabo! É o dia em que a porca vai torcer o rabo. Pelo visto não estive muito inspirada para fazer piadas e voltei a me agoniar antes de continuar a dormir. Vieram trocadilhos na cabeça e um poema idiota:

A Dança Pega
Eu tinha Pego
Ele tinha Chego
Ela tinha Trago
Eu tinha Falo
Mas não era homem
Como poderia?

Lembrei que eu sempre brinco com essa mania que as pessoas têm de falar desse modo, fulano tinha pago, beltrano tinha chego... Tinha chego? Aí eu sempre dizia: "se você tinha trago era de quê? Cigarro? Pinga?..." Ai, ai... Essa coisa de Dia "D" está me deixando "D"oida!

Acordei e fui pesquisar o que tem de importante no dia 29 de abril e descobri algumas coisas interessantes:

1. Essa data se comemora desde 1982 primeiro mundo afora. No Brasil, pra variar, veio com atraso. Só tive conhecimento desse evento muitos anos depois, acho que no final dos anos 1990;

2. O dia 29 de abril foi escolhido por ser o aniversário de Noverre, um dançarino francês. Tá, mas... Pôxa, seria pedir muito que a data tivesse relação com alguma coisa mais interessante? A data de nascimento de um homem, branco, europeu? E a idéia é melhorar a imagem da dança no mundo? Como assim?

3. O Dia D, ou D-Day, é um termo do vocabulário militar (!!!???) que se refere a um dia onde um ataque deve ser iniciado. Novamente tem a ver com a França e sua atuação na Segunda Guerra Mundial, muito embora o termo tenha sido utilizado pela primeira vez pelo exército dos U.S.A. na Primeira Guerra Mundial. Quem quiser pesquisar mais, vá ao google.

4. O tal filme de que me lembrava chama-se: D-Day the Sixth of June. Foi lançado em 1956. Abaixo coloquei uma imagem dele. Para que meus pesadelos tenham mais fontes de inspiração.


Bem, a dança merece mais do que isso, não acham? Eu tenho certeza. Eu mereço mais do que isso. Por ironia do destino o cartaz que "recrutava" aspirantes ao curso de dança da UNICAMP em 1990, ano em que fiz o vestibular, era uma paródia dos cartazes para o alistamento militar. Não quero dar uma da paranóica e me sentir perseguida por esse tema. Gostaria de ter aqui uma imagem do referido cartaz, que desencadeou manifestações de repúdio de nossa turma e graves críticas ao pobre professor que o idealizou. Procurei na net e não encontrei. Por favor, se alguém tiver essa imagem, envie para mim! Recordações de adolescência... Entrei lá com 16 anos, enfim...

Pega na minha dança
Dança na minha e pedala
Badala na minha balada
Que eu meto o meu bedelho

15 de abril de 2009

A Cura


Prometi que iria em busca da cura para o mal dançante que promete devastar nosso cotidiano. Na verdade eu já tinha o antídoto em casa. Vou começar a distribuir agora, aqui!


No cotidiano contemporâneo tem sido freqüente a utilização de práticas de dança como alternativa para a promoção do bem-estar e para o acesso a conteúdos emocionais. Essa possibilidade se justifica porque a dança, além de ser uma atividade física que promove a mobilidade corporal de forma aeróbica, é antes de tudo uma forma de expressão artística. E como forma de expressão, pode abrir canais para manifestações de conteúdos emocionais e do pensamento que dificilmente se traduziriam por meio de discursos verbais e/ou raciocínios lógicos.


A história da dança se perde no tempo em trajetórias incertas das várias populações humanas. É reconhecidamente uma prática ancestral que hoje em dia se faz presente em momentos de confraternização, rituais tribais, comemorações festivas e eventos artísticos ao redor de todo o mundo. Terapeutas corporais das mais diversas nacionalidades vêm utilizando a dança como veículo catalisador de estados emocionais ou mesmo como um canal de socialização. As práticas coletivas restabelecem vínculos afetivos entre pessoas interessadas em combater o stress da vida moderna. Iniciativas bem sucedidas com o uso da dança nesse sentido apresentam relatos de participantes que resgataram a auto-estima e as sensações de prazer e bem-estar físico e emocional. Um dos expoentes da prática de dança como forma terapêutica, nos Estados Unidos, é Gabrielle Roth, que atua na área há mais de 35 anos.



Em seu livro Os Ritmos da Alma (1997), Gabrielle Roth descreve alguns episódios de seu trabalho desenvolvido junto a milhares de pessoas nos mais diversos ambientes – escolas, hospitais, corporações, teatros e centros de desenvolvimento. Além de retratar experiências bem sucedidas com dança em ambientes de terapia, a autora enfatiza que o ser humano moderno, abrigado em pequenas habitações e com extrema valorização da individualidade, sente necessidade de resgatar a consciência tribal que os une às outras pessoas de seus bairros e cidades, aquela sensação de que todos estamos compartilhando o mesmo mundo.


Selecionei uma pequena mostra do que essa artista incrível faz pelo mundo e coloquei aqui como nossa vacina, nosso antídoto, a minha cura prometida!





12 de abril de 2009

Cuidado com a Dança que a Dança te pega...


Descobri o nome do tal programa que pretende divulgar a dança mundo afora. Será exibido no People & Arts. O nome do programa é A Dança Pega. Confiram, caros leitores! Vale a pena ver os lindos vídeos!

Por via das dúvidas, estou ligando para meus amigos médicos em busca de uma vacina. Se essa coisa é contagiosa, quero me proteger urgentemente! E se eu encontrar a vacina ou quem sabe até uma cura, divulgarei aqui para que sejam disponibilizadas em larga escala.

Clique aqui para ir à página do programa na internet! Mas cuidado com a dança que a dança te pega, te pega daqui, te pega de lá!

Para quem tiver preguiça, segue abaixo o vídeo considerado o melhor de todos:






7 de abril de 2009

A Dança está em alta: salve-se quem puder!


Da última vez em que isso aconteceu era 2002. O bellydance boom da novela "O Clone". Coincidência ou não, Glória Perez mal entrou no ar e já se anuncia uma avalanche de bizzarices no mundo da dança. Não estou me referindo àqueles movimentos estranhos da dança indiana que inundam as telas dos milhões de brasileiros atentos aos (des)caminhos das Índias. Mas a um clima tenebroso que se anuncia e que vem se espalhando suavemente pela mídia.

Pra começar vi que estão para lançar uma versão de American Idols com dançarinos no lugar dos costumeiros cantores. E as coreografias mostradas como chamariz do programa são pra lá de esquisitas. Sinal dos tempos. É como estão encarnando a dança agora. Professores de plantão, preparem-se! Vocês terão que ensinar as pessoas a dançar aqueles passos "belíssimos" e "inovadores", senão vão perguntar que tipo de professor de dança vocês são! Será que estou ficando velha e ranzinza? Céus! Não quero parecer o meu pai que não me deixava escutar LPs de rock'n'roll porque não faziam bem para os ouvidos. Mas aquelas dancinhas quase me deixaram vesga. Tá certo, uma ou outra coisa se salva... Mas o gosto não deixa de ser duvidoso.

Quando estava me refazendo do horror e ainda tentando apagar da mente as imagens do que vai acontecer nas academias Brasil a dentro, dou de cara com a seguinte manchete:
Dançarina de discoteca transformada em freira dançará em basílica romana. Minha cadeira de escritório que é giratória quase cai pra trás e me causa um grave acidente. Mas o que será isso? Abri a matéria para ler. Era um link na página do Terra que seguia para o Jornal O Dia Online. Pior do que a manchete era a primeira frase do texto: "Uma dançarina especializada em lap-dance que animava as noites de Milão e se tornou depois freira dançará no próximo dia 7 na Basílica romana de Santa Cruz de Jerusalém, em um ato presidido pelo presidente do Conselho Pontifício para a Cultura, o arcebispo Gianfranco Ravasi". Santo Deus, como sou ignorante! Não sei o que é lap-dance, não sabia que animadoras e dançarinas eram a mesma coisa e desconhecia que havia um Conselho Pontifício para a Cultura. Pior ainda, um Conselho Pontifício para a Cultura que ainda incentiva a dança. Lembrei dos idos de 1996 quando ministrei um curso de Extensão na Universidade Católica de Brasília e do sufoco que enfrentamos enquanto grupo performático na hora de conseguir espaço para mostrar nosso trabalho. Se eu não fosse tão ignorante, teria pedido ajuda ao tal Conselho, afinal... Mas a vida é assim, vivendo e aprendendo... E continuando no aprendizado do pontificado da dança, no artigo é mencionada outra espécie de dança que também desconhecia: a dança sacra contemporânea. Estupendo! A Irmã Dançarina fundou ainda uma escola que catequiza as crianças por meio da dança. Ainda bem que encontraram uma nova função para a dança, já que está tão difícil trabalhar na área. E eu aqui, perdendo o meu tempo reclamando que não dão ao corpo o valor devido quando se trata de produzir conhecimento. De fato, o ser humano ainda pode me surpreender. E muito!

É por isso, caros leitores, que peço: salvem-se enquanto é tempo. Eu já não tenho salvação, sou uma alma perdida e entregue a uma dança onde meu corpo não é "o templo do Divino Espírito Santo". Ai de mim. De uma coisa eu sei, sou chata por opção. E dei de cara com uma frase que prova cientificamente que sou chata. O tal de Voltaire falou uma vez: "O segredo de ser chato é dizer tudo!". Eu digo mesmo. Chato esse tal de Voltaire!


* Reportagem sobre a Freira Dançarina.

2 de abril de 2009

Quem são as mulheres árabes?


Meu post anterior abriu uma veia no feminismo incrustado no mundo ocidental, deixando escorrer a generalização, muito comum quando se pensa em contextos culturais. Eu estava ali, assumindo meu orientalismo, mas talvez devesse explicar melhor todo o ocorrido para que não restem lacunas nessa discussão.
O orientalismo tem definições amplas e pode ser melhor estudado a partir dos textos de Edward Said. Ele criou essa expressão que dá conta de uma série de práticas e opiniões formadas a respeito do mundo oriental, com ênfase nas abordagens sobre a cultura árabe. Muitas vezes as pessoas criam conceitos e esperam encontrar entre os árabes imagens, situações e eventos que não existem na vida real. É uma tendência a fantasiar. E quando a fantasia não está presente, a realidade pode ser frustrante. Eu utilizei o conceito durante muitos anos para falar sobre meu maior tema de pesquisa: a dança do ventre. Tentando desmistificar preconceitos e cristalizações. Mas fui a mais recente vítima do orientalismo de que tive notícia nos últimos tempos.
Como havia dito, fui assistir ao programa sobre o Kalam Nawaem esperando encontrar imagens das décadas de 1940 a 1960, porque o nome do documentário era "Rainhas da TV Árabe". Na minha mente as tais rainhas só poderiam ser aquelas que eu havia visto na televisão do Cairo e de Alexandria. Por quê? Porque eu sou o centro do universo. Então o mundo tem que corresponder às minhas expectativas.
Dei de cara com outra realidade. Pode ter o verniz estadunidense, o revestimento da ganância capitalista, o formato ocidental batido, mas era algo que eu consideraria impossível de acontecer na mídia árabe. Foi um susto. E lógico que antes de avaliar mais profundamente a questão, postei meus comentários com louvações à iniciativa, dando vivas à globalização, porque afinal de contas tenho o direito de ser público, apreciar, me deliciar e dispor de uma fatia do senso comum.
Porém, antes de me debruçar sobre este recente fenômeno do mundo televisivo dos países árabes com rigor acadêmico, gostaria de perguntar a vocês algumas coisas:
Quem são as mulheres árabes?
São mulheres oprimidas, vilipendiadas, infelizes? Quem disse? Quantas são? Onde moram? O que pensam sobre isso? O que pensam sobre as mulheres ocidentais?
Quem são as mulheres não-árabes?
Eu sou? Você é? O que podemos falar sobre as coletividades humanas?
Ando lendo sobre multiculturalismo e percebi com alegria que minhas más impressões a respeito de como esse assunto é tratado no Brasil não eram apenas fruto de minha tendência a criar polêmica. É que no texto maravilhoso de Vera Maria Candau no primeiro capítulo do livro Multiculturalismo: diferenças culturais e práticas pedagógicas, está a explicitação de tudo o que eu andava sentindo. Simplesmente existem inúmeras maneiras de abordar o multiculturalismo e no Brasil temos uma base muito forte, mas apesar disso, nossos discursos e práticas ainda estão longe de aplicar os princípios da alteridade. As duas concepções de multiculturalismo mais presentes nas sociedades atuais são: a abordagem assimilacionista e a monocultura plural (termo cunhado por Amartya Sen, 2006).
A primeira propõe uma universalização e estratégias compensatórias, onde acaba se defendendo uma cultura comum e hegemônica, tirando a legitimidade das variações de linguagem, valores, crenças, saberes, etc. Enfim, para fazer parte do todo os indivíduos acabam por abandonar o que os torna singulares.
Já na segunda abordagem a ênfase está no reconhecimento das diferenças. Mas a desvantagem fica na tendência a criar uma visão essencialista e estática da formação das identidades culturais. Os grupos se dividem em diversos segmentos, criando "verdadeiros apartheids socioculturais" (pg.22).
Posso dar exemplos das duas práticas apenas a partir do raciocínio que venho desenvolvendo sobre as mulheres árabes. Num primeiro momento, quando fiquei feliz por vê-las integradas ao mundo globalizado da mídia, dei vivas, porque assim haveria uma universalização e eu me sentiria mais próxima daquelas mulheres. Elas estavam ocidentalizadas, uma estratégia compensatória, então meu primeiro pensamento foi: "Estão vendo? As mulheres árabes não estão mais tão diferentes de nós!". Num segundo momento, quando tento apontar que existem as mulheres árabes que não usam véu, as mulheres árabes que estudam, as mulheres árabes que ocupam cargos importantes, as mulheres árabes mães de família, as mulheres árabes que se masturbam (como mostrado no programa da GNT), as mulheres árabes que se filiam ao terrorismo, etc, etc, etc, estou praticando o multiculturalismo diferencialista (ou monocultura plural).
Difícil mesmo é alcançarmos a Interculturalidade...
Mas aí é outro texto. Ainda chegarei lá!!! Allah u Akbar!