31 de maio de 2009

Meu Braço Esquerdo


Com o encerramento da enquete à esquerda, cujo objetivo era saber se outras pessoas concordavam comigo sobre o fato de que seu braço esquerdo dança melhor do que o direito, vejo-me na obrigação moral de explicar de onde surgiu tal idéia. É que há anos trabalhando com dança, assistindo a performances, vídeos, aulas, percebi que o meu braço direito freqüentemente* "desmaiava" durante algumas danças, especialmente no caso da dança do ventre.

Pensava que era coisa minha, fui até investigar se eu tinha algum problema neurológico. Uma vez um místico chegou a me dizer que minha energia vital não estava alcançando a extremidade de meu braço direito... Fiz o que pude e tratei de melhorar isso, fazer com que meu braço direito passasse a se comportar como deveria, participando ativamente dos movimentos de meu corpo. Não é fácil, devo dizer que constantemente preciso me lembrar disso e observar como anda meu pobre membro sonolento. E ainda hoje, após cerca de uma década de conscientização e trabalho árduo, de vez em quando pego o danado querendo desmaiar ou apenas se comportando como um sonâmbulo.

Se fosse um caso isolado, não mereceria espaço para comentário. Acontece que desde meados de 2001 venho observando o mesmo fenômeno estranho ocorrer com outras dançarinas. Primeiro vi algumas de minhas alunas apresentarem a mesma dificuldade em coordenar os movimentos do braço direito. Pensei que pudesse ser um problema metodológico de minhas aulas. Mas vendo alunas de outras professoras e muitas outras dançarinas de diversas formações apresentando a mesma anomalia cheguei a uma primeira conclusão. Não era exatamente o braço direito que tinha um problema. Era o braço esquerdo que praticamente "roubava a cena", vale a pena repetir: especialmente no caso da dança do ventre.

Fiquei intrigada e pensei em desenvolver uma pesquisa séria a respeito. Ainda bem que eu não me levei a sério. Por isso lancei a enquete engraçadinha que por coincidência está do lado esquerdo do blog (coisas da formatação). Ainda que o resultado não seja expressivo, surpreende que 44% das pessoas que votaram também acreditem que seus braços esquerdos dancem melhor do que os braços direitos. Só digo uma coisa: vale a pena observar! Seja qual for a explicação (estímulos do lado direito do cérebro, ou coisas do gênero), o fato de isso acontecer é no mínimo curioso. Para mim, é espantoso! E acontece muito, principalmente em improvisações.

Para finalizar, como não poderia deixar de ser, vou mudar completamente de assunto e indicar um filme de que me lembrei e que não tem nada a ver com tudo o que escrevi acima, muito embora o título tenha tudo a ver. É o filme My left foot, em portugês "Meu pé esquerdo". Nem que seja para que em uma dessas noites frias e milagrosamente chuvosas do cerrado brasiliense em plena época da seca, o filme acompanhado de um chocolate quente possa aquecer seu braço direito para que possa dançar melhor!!






*Eu sei que não se usa mais 'trema', porém sou uma conservadora e se eu tivesse uns 80 anos provavelmente ainda estaria escrevendo farmácia com 'ph', ok?

25 de maio de 2009

Eu voltei, agora pra ficar! Pois aqui, aqui é o meu lugar...


Deixando de lado a nostalgia, vamos ao que interessa porque depois de tanto trabalho acumulado que de modo eficiente coloquei rigorosamente em dia (igual ao carnê do baú da felicidade), mereço descansar, com as pernas para cima, assistindo TV. Havia prometido isso, que chegaria o tempo do "uma coisa de cada vez" como diz a música. Pois bem...

Domingo, trabalhei bastante. Quando me vi finalmente de folga, liguei a TV. Eis que diante de mim, no canal People & Arts surge uma apresentadora vestindo um tubinho com estampa de girafa. Achei engraçado e continuei a assistir. Para minha surpresa era o temido programa do qual já havia falado em outras postagens aqui. O nome dele em inglês é "So you think you can dance". Soa como aquelas frases bem brasileiras que as pessoas dizem para menosprezar alguém "ah, então a senhora acha que sabe escrever?". Pode ser que alguém pense isso de mim e me considere ousada por manter esse blog. Mas um programa de TV que se intitula "Então você pensa que pode dançar"?... Ai, ai, ai... Tsc, tsc. Debaixo da bancada dos jurados bem que podia ter um letreiro luminoso com a frase: "então, você sabe com quem está falando?". Ou melhor, "você sabe para quem está dançando?".

É como eu havia previsto. Parece com American Idol, mas os jurados são mais respeitosos, até onde eu consegui assistir. Os dançarinos selecionados se apresentam em estilos diferentes dos que costumam dançar usualmente. Vi que havia os hip hopers, os dançarinos de salão, os que dançam jazz e outros de uma chamada "dança contemporânea", cujo conteúdo era por mim totalmente ignorado até então. E eu que pensava que sabia o que era dança contemporânea... Pobre de mim. Graças à providência divina pude ter o contato com a "verdadeira dança contemporânea" apresentada na televisão estadunidense. É uma coisa meio histérica, parecida com a dança gospel (vocês já viram a dança gospel? é uma dança onde as pessoas fazem louvores ao Deus todo poderoso). Bem, pelo menos fiquei mais inteligente após o programa.

Cheguei a pegar uma prancheta para anotar os detalhes e passar para vocês, queridos leitores. Mas por algum infortúnio minha mãe me ligou exatamente na hora e me distraiu com uma conversa absolutamente deliciosa e quando retornei ao quarto onde estava a TV, já havia mudado a programação... Lamentável, não? Mas prometo que na próxima oportunidade trarei todas as informações possíveis, desde o bom gosto nas escolhas de figurinos com motivos selvagens, nas escolhas das músicas maravilhosas, dos passos de dança incríveis e outros detalhes pertinentes. Ah... Lembrei que além da programação temos no intervalo comercial o privilégio de assistir aos vídeos enviados pelos interessados em participar das versões do programa em espanhol e portugês, cujo nome continua sendo "A Dança Pega". Será que pega tanto quanto a gripe suína? Por via das dúvidas vou comprar umas máscaras...

21 de maio de 2009

Tudo ao mesmo tempo agora

Não canso de dizer que os Titãs iluminam minha vida! Estou na fase "tudo ao mesmo tempo agora". Passei aqui para que vocês não desistam de mim, sinto necessidade de explicar minha ausência no blog. Nem que eu tivesse mais tempo, meu cérebro não daria conta de postar algo realmente interessante por aqui...
Estou assim:


Preciso de um destes:


Aquela ali, embora não pareça, sou eu:


Quando chegar a fase do "uma coisa de cada vez", voltarei com todo o explendor! Aguardem!

10 de maio de 2009

As mães também dançam

Estranho começar um post com um título do qual discordo. Mas vou manter assim. Quando colocamos a palavra 'também' numa frase, de certo modo realizamos uma distinção. É como se as mães fossem diferentes de outras mulheres. Mesmo assim, deixarei que o título permaneça, a título de provocação.

Foi com a minha gravidez que tomei contato com a dança do ventre. Afinal de contas, eu estava na graduação em Dança na universidade e tinha que me manter dançando. Mas não podia mais jogar minha capoeira querida, ou estrebuchar nas aulas de dança contemporânea. Além disso, precisava de um dinheiro extra, porque a família ia aumentar. Por ironia do destino, passei a trabalhar como secretária de uma academia de dança do ventre. Detalhe: eu tinha o maior preconceito contra o que eu chamava de "aquela dancinha".

Mas aquela dancinha ardilosa foi tomando conta de meus sentidos. Véus coloridos atiçavam minhas vistas, o aroma dos incensos fumegava em minhas narinas, a música deliciosa vibrava em meus tímpanos, os tapetes persas faziam massagens em meus pés. Até mesmo meu paladar mudou, passei a apreciar os temperos árabes e logo me apaixonei por tudo. Via as aulas acontecendo e minha barriga crescendo, precisava dançar e num impulso passei a frequentar uma das turmas de iniciantes. Não preciso dizer que a maternidade transformou a minha vida. Eu era uma mamãe dançante e muito mais feliz por ter sido acolhida por uma prática suave e ao mesmo tempo forte.

Naqueles tempos, muitas das minhas colegas faziam abortos porque bailarinas não deveriam ser mães. Eram coisas que não combinavam. Como no antigo jogo da memória do SBT, poderíamos afirmar: dança e maternidade não formam par! Acompanhei o sofrimento de muitas delas, as crises existenciais, principalmente o desespero das que optavam por levar a gravidez adiante. Era como uma sentença de fim de carreira. E eu, que aos 19 anos havia encontrado o homem da minha vida, estava casada de papel passado, aliança e bênção católica, tomei uma decisão: transformar meu corpo em um símbolo da campanha a favor da gravidez dançante. Entusiasta como de costume, eu panfletava: vou provar para esse povo que uma mulher pode ser mãe e ter uma carreira de dança bem sucedida.

Não vou dizer que foi fácil. E nem sei se minha campanha deu certo. Descobri que não existe o homem da vida de ninguém, muito embora eu tenha o melhor ex-marido do mundo (sério!). Tenho uma filha de 13 anos que é uma das razões de eu continuar viva até hoje. Tanto que agora, no dia das mães, escolhi fazer uma homenagem a ela e a tudo o que ela me trouxe de maravilhoso e ainda me traz! Amo profundamente a Lara. Ela me faz forte, me apóia e até dança comigo. É um ser humano de qualidades inestimáveis! Minha filha, minha amiga, minha irmã e algumas vezes meu pai. Cuida de mim, como se fosse um pai. É que eu sou uma mãe um pouco diferente da maioria...

Concluam vocês se eu atingi minha meta. Continuei dançando, não saí da área em que escolhi atuar. Passei momentos sem dinheiro, precisando do apoio de outras pessoas: mãe, avó, ex-marido, namorado, amigos. Também consegui dinheiro com algumas coreografias premiadas, shows esparsos, aulas, oficinas, programas sociais, patrocínios. Fiz meu mestrado em arte, tendo a dança do ventre como tema, com direito a pesquisa de campo no Egito. Estou feliz. Ser mãe nunca me impediu de dançar e investir no caminho profissional escolhido. É certo que em alguns momentos precisei desviar as rotas. Mas sempre voltei para a trilha original, onde continuo.

Para as mães que dançam, um feliz dia das mães! Ainda que eu tenha minhas ressalvas em relação a essas datas comerciais instituídas. E que fique bem claro que eu não tenho nada contra o aborto. Minha campanha era para ampliar opções.

Que as mulheres possam decidir sobre seus corpos e seus destinos sempre! Que possam ser mães se e quando quiserem. Que tenham o direito de não ter filhos se assim o desejarem. E que ninguém as importune perguntando ostensivamente quando serão mães. Essa idéia de que só quem é mãe atinge a realização pessoal está deixando muitas mulheres desequilibradas, frustradas, deprimidas, desesperadas. Graças aos deuses a realidade está aí para atestar que isso é uma grande mentira. A realização pessoal depende de uma série de coisas, todas particulares, individuais, pessoais e intransferíveis. Sejamos felizes!

Mabruk! Mabruk! Habibas... Mabruk!